Moção de Apoio
Os estudantes da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP de Marília estão em greve e ocuparam o Prédio de Aulas. Bastaria o facto de eles reivindicarem laboratórios de qualidade e o aumento do número de professores e de funcionários para merecerem todo o apoio, mas o eixo do movimento parece-me ser outro.
Os grevistas exigem o fim do Plano de Desenvolvimento Institucional, que define metas e ações da universidade para os próximos dez anos. O objectivo deste Plano é a aplicação no Brasil do que desde há bastantes anos vem a ser feito nas universidades dos Estados Unidos e mais recentemente na Europa, a transformação do ensino superior e da pesquisa científica numa actividade subsidiária das grandes empresas transnacionais.
Os grevistas reclamam igualmente o fim da Universidade Virtual do Estado de São Paulo (UNIVESP). Sob o pretexto de democratizar o acesso à universidade, este programa de ensino virtual é mais uma das formas como, nos últimos anos, tanto o governo federal como os governos estaduais procuram aplicar nas universidades públicas os critérios e os sistemas vigentes nas universidade privadas. Os políticos e os gestores da educação que têm defendido o ensino à distância argumentam que este método aumenta a produtividade dos docentes, medida por uma taxa professor / alunos, o que é sem dúvida exacto, desde que avaliemos os resultados do ensino como avaliamos o desempenho de qualquer linha de produção industrial ou as prestações de qualquer firma de serviços. Seria difícil indicar melhor que o objectivo é a mercantilização da educação. E é nesta estrita acepção de ampliação do mercado que se pretende apresentar como democrática a Universidade Virtual, o que nos elucida acerca da concepção de democracia vigente no governo do estado.
Contrapondo-se a esta concepção, os grevistas defendem a democratização das instituições universitárias, que passa pela igualdade nos órgãos colegiados. Por isso é exigida a paridade de decisão, de modo a que professores, funcionários e estudantes tenham o mesmo número de votos.
Mas permitam-me duas observações, estudantes grevistas da Unesp de Marília.
Antes de mais, para que a paridade atribuída aos representantes seja realmente um instrumento de democracia, é necessária a existência de mecanismos assegurando que os representantes sejam controlados pela base, escutem a base e lhe prestem contas, e sejam demitidos se a base não gostar da sua actuação.
Além disso, penso que a utopia não consiste em pedir muito, mas em julgar que é possível parar a meio do caminho. A universidade não pode democratizar-se internamente se não se abrir democraticamente para o exterior, o que torna urgente a discussão acerca das formas como a universidade se deve ligar aos movimentos sociais e às lutas da classe trabalhadora.
Considerando tudo isto, manifesto o meu completo apoio aos estudantes grevistas ocupantes da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP de Marília. Que o seu exemplo seja seguido pelos demais estudantes de São Paulo, do país e mesmo do mundo! Que os planos do governo do estado, das reitorias e do grande capital para a educação não prosperem! Que a luta destes estudantes seja vitoriosa e abra o caminho a uma educação que não se confunda com a formação maciça de força de trabalho.
João Bernardo
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